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O que é luto?

O luto é uma experiência estressante, mas comum. Cedo ou tarde a maioria de nós vai sofrer com a morte de alguém que amamos. Mesmo assim, no nosso dia a dia, pouco falamos ou pensamos sobre morte, talvez porque nos encontramos menos com a morte do que nossos avós, por exemplo, o faziam. Para eles, a morte de um irmão, amigo ou parente era uma experiência comum desde a infância. Para nós, as perdas acontecem geralmente no final da vida. Assim, temos poucas oportunidades de aprender sobre luto – o que é, o que é “normal”, o que se deve fazer – ou para entender como passar por ele. Apesar disso, devemos aprender que eventualmente todos estaremos diante da morte de alguém que amamos.



O sentimento de luto


Nós passamos por um luto após qualquer perda, mas o sentimento é muito mais poderoso após a morte de um ente querido. Não é apenas um sentimento, mas uma sucessão de sentimentos, um processo que deve levar seu tempo e não ser apressado.

Nós sofremos mais por alguém que conhecemos há algum tempo. Entretanto, sabe-se que pessoas que passaram por abortos ou morte do recém-nascido, ou que tenham perdido bebês muito novinhos sofrem da mesma forma e precisam da mesma atenção que alguém que perdeu um companheiro de muitos anos.

Nas primeiras horas ou dias após a morte de um parente ou amigo próximo, a maioria das pessoas simplesmente se sente chocada, como se não pudesse acreditar que a morte realmente ocorreu. Muitos se sentem assim mesmo que a morte tenha sido anunciada.

Este sentimento de paralisia emocional pode ajudar em todos os afazeres e preparações após a morte, como entrar em contato com os parentes e organizar o funeral. Se este sentimento de irrealidade, entretanto, se prolonga demasiado, pode se tornar um problema. Ver o corpo do falecido pode, para alguns, ser uma forma importante de resolver esta paralisia.

Similarmente, para muitos, o funeral é uma ocasião na qual a realidade do que aconteceu finalmente os atinge. Pode ser difícil ver o corpo ou ir até o velório, mas estas são formas de dizer adeus a quem amamos. Na hora, isto pode parecer muito doloroso e você pode tentar evitar o velório e enterro. No futuro, porém, você pode se arrepender e sentir culpa.

Cedo esta paralisia emocional desaparece e pode ser substituída por uma sensação de agitação ou necessidade do falecido. Há uma sensação de tentar encontrá-lo, mesmo que isso seja impossível. Esta sensação faz com que seja difícil relaxar e concentrar-se e pode alterar o sono. Mesmo os sonhos podem ser bastante estressantes.

Algumas pessoas sentem-se como se “vissem” o falecido em qualquer lugar – nas ruas, nas praças, perto de casa, em qualquer lugar que tenham passado tempo juntos. Muitos ficam com muita raiva neste momento – em relação aos médicos e enfermeiros que não impediram a morte, aos amigos e parentes que não fizeram o suficiente, ou mesmo em relação ao falecido, que ao morrer, os abandonou.


Outro sentimento comum é culpa. Muitos ficam repensando todas as coisas que poderiam ter feito ou dito. Podem até considerar que se tivessem feito algo diferentemente, a morte poderia ter sido impedida. É claro que a morte em geral está além de nossa capacidade de controle e uma pessoa que passa por um luto às vezes tem que ser lembrada disso. Algumas pessoas também sentem culpa se se sentem aliviadas pela morte indolor do ente querido. Esta sensação de alívio é comum e perfeitamente normal.


Este estado de agitação é mais forte nas duas semanas após a morte, mas é logo seguido por um estado de tristeza calma ou depressão, silêncio e isolamento social. Estas mudanças emocionais súbitas podem ser confusas para amigos e parentes, mas são parte do processo normal de luto.

Embora a agitação diminua, os períodos de depressão tornam-se mais frequentes e atingem um pico quatro a seis semanas depois. Espasmos de luto com choro convulsivo podem ocorrer a qualquer momento, geralmente causados por pessoas, lugares ou objetos que tragam à memória o falecido.

Algumas pessoas podem achar difícil de entender ou sentir-se envergonhadas devido ao comportamento da pessoa em luto de chorar de repente, sem razões óbvias. Neste estágio, pode parecer tentador ficar longe de pessoas que não entendem ou não compartilham sua dor. Entretanto, evitar a companhia dos outros pode causar problemas no futuro e é melhor começar a retomar suas atividades após duas semanas da perda.


Durante este tempo, pode parecer aos outros que a pessoa em luto passa muito tempo apenas sentada, sem fazer nada. Na verdade, ele(a) está pensando na pessoa que perdeu, ruminando mentalmente as boas e más lembranças. Este é um processo silencioso, mas fundamental para se passar pelo processo de luto.

Conforme o tempo passa, a dor aguda do luto breve começa a desaparecer. A depressão melhora e é possível pensar em outras coisas e mesmo planejar o futuro. O sentimento de ter perdido uma parte de si mesmo, entretanto, nunca passa completamente. Para esposas ou maridos em luto, existem lembranças constantes de seu novo estado civil, ao ver outros casais e no dilúvio de imagens na mídia de casais e famílias felizes. Após algum tempo é possível sentir-se completo novamente, mesmo que tenha perdido uma parte de si.

Estes vários estágios de luto podem ocorrer ao mesmo tempo e apresentar-se de forma variada. A maioria das pessoas recupera-se de um luto importante entre um a dois anos. A fase final do luto é o processo de desapego da pessoa que morreu e o início de uma nova vida. A depressão passa completamente, o sono melhora e o nível de energia retorna ao normal. A libido, que desapareceu por algum tempo, retorna e todos estes sentimentos são normais, nada que deva causar vergonha.

Mesmo com as descrições acima, deve-se saber que não existe um jeito “certo” de sofrer um luto. Todos somos indivíduos diferentes com modos particulares de experimentar uma perda. Além disso, pessoas de diferentes culturas lidam com a morte de forma distinta. Ao longo da história, pessoas de diferentes partes do mundo criaram suas próprias cerimônias para lidar com a morte.


Nesses tempos de pandemia o processo de luto e a busca por consultas psiquiátricas para ele foi muito comum. Todos perdemos conhecidos, familiares, cônjuges. Entender o que é o processo esperado ajuda a distinguir das situações patológicas em que o indivíduo fica obcecado pelo falecido, mantém "santuários" em casa e meses ou anos após ainda mantém o quarto ou os pertences do falecido intactos. Nesses casos, procure ajuda de um profissional de saúde mental.


Luto mal resolvido


Algumas pessoas parecem não sofrer a perda. Elas nem mesmo choram no funeral, evitam mencionar sua perda e voltam à vida normal rapidamente. Para alguns isto é normal, mas outros passam a sofrer de sintomas físicos ou episódios depressivos nos próximos anos. Outros podem não ter tido oportunidade de resolver o processo de luto adequadamente. As pesadas demandas da vida, de cuidar de uma família ou negócios podem ter ditado que não havia tempo suficiente.


Algumas pessoas começam o processo de luto, mas ficam “presas” a uma fase. A sensação inicial de choque continua sem resolução. Podem se passar anos e o indivíduo ainda acha difícil acreditar que seu ente querido morreu. Outras continuam a vida incapazes de pensar em qualquer outra coisa: mantem o quarto do falecido como um altar à sua memória.

Ocasionalmente, a depressão que ocorre com o luto pode se exacerbar a ponto de a pessoa recusar comer ou beber e apresentar pensamentos suicidas.


Como seu medico pode ajudá-lo(a)

  • Noites insones podem às vezes, persistir e se tornar um sério problema. O médico pode prescrever medicamentos para ajudá-lo a dormir

  • Se a depressão continua a piorar, alterando o apetite, energia e sono, antidepressivos podem ser indicados.

  • Se o luto não se resolve, procure ajuda de um profissional de saúde mental. Para alguns, encontrar-se com um terapeuta a sós ou em grupo, no qual outras pessoas passaram por experiências semelhantes, ajuda na resolução do quadro.

Lembre-se: O luto é uma das experiências mais dolorosas pelas quais podemos passar. Pode ser estranho, terrível e estressante, mas é uma fase da vida pela qual quase todos passamos e não requer avaliação médica por si só.


Referências

Hawton K and Simkin S (2003) Helping people bereaved by suicide. BMJ;327:177-178.

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